O Pensamento Fraco na Arquitetura

Vinheta

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Podemos caracterizar a arquitetura das últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 1960,  época em que o Movimento Moderno em arquitetura foi atingido por diversos cismas, até os dias de hoje, já na segunda década do Século XXI, por uma conhecida oposição tirada da filosofia, entre pensamento forte e pensamento fraco. Não se trata de atribuir  uma relação de valor, qualificando positivamente o que é forte e negativamente o que é fraco ou vice-versa. Na verdade esta caracterização pretende diferenciar a arquitetura feita exclusivamente, ou predominantemente, por critérios do pensamento racional, a razão forte, uma tradição da arquitetura dita Moderna, daquela em que este determinismo racional é enfraquecido por outras relações, presentes na experiência ou no julgamento do arquiteto.

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Grandes exemplos do pensamento forte na arquitetura nos vem da Bauhaus, de Le Corbusier ou dos Neoplasticistas. A Ideal Stadt de Ludwig Hilberseimer, ou sua a Hochhausstadt, o Plan Voisin de Le Corbusier, e mesmo a Carta de Atenas, são grandes produtos ou diretrizes arquitetônicas de uma época de plena confiança na razão. Continuar lendo

O Pensamento Fraco em Arquitetura II

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MONUMENTO

A posição antimonumento do Movimento Moderno justificava-se por ser o monumento uma prática da arquitetura do passado, tanto imediato como remoto, uma prática vitoriana que urgia substituir. Além disso, próprio nome “moderno” já traz, em si, o sentido do último, do mais recente, ao qual nada sucederia. Havia um sentimento de que era necessário romper com o passado. Os argumentos eram políticos, estilísticos, econômicos e retóricos.

Toda a arquitetura da modernidade, anterior ao século XX, fora construída sob o signo da ordem aristocrática ou burguesa, para exercer ou manifestar o seu poder. A arquitetura monumental não apenas representava este estado de coisas, como ajudava a mantê-lo. Os estilos, “qual plumas na cabeça de uma mulher” [1], no dizer de Le Corbusier, não tinha mais razão de ser. Por outro lado, a crescente urbanização trouxe para a arquitetura o tema da economia, não somente de recursos, mas também de “energia” psíquica, como diria Adolf Loos, de espaço, de formas. Le Corbusier argumentava que “Não temos mais dinheiro para construir monumentos históricos” [2]

Monumento a Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.Cor Mies . Berlim, 1926. Continuar lendo

O pensamento fraco na arquitetura III

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SUSTENTABILIDADE

Toda a discussão atual sobre a sustentabilidade, que envolve também a arquitetura, pode ser colocada relacionando a oposição entre o Pensamento Forte e Pensamento Fraco. O primeiro, reflexo do pensamento iluminista,  reproduz tardiamente o espírito de Francis Bacon do domínio do Homem sobre as coisas, sustentando que a Natureza deveria ser obrigada a servir-lo, e este deveria extrair dela os seus segredos. E não somente os segredos, poder-se-ia acrescentar, mas também suas fontes de energia. Assim é que a modernidade é a época dos combustíveis fósseis, do carvão e do petróleo e a arquitetura dos grandes centros urbanos, os arranha-céus de aço e vidro, grandes incorporadores e consumidores de energia, e que são vilões do pensamento sustentável.

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As graves crises ocorridas nos anos 1970 colocaram em questão essa representação arquitetônica do mito do desenvolvimento. No ambiente da arquitetura, os extremistas falaram da falência da arquitetura moderna, os mais moderados em uma grave crise da qual não se sairia a não ser tomando um rumo novo. Continuar lendo

Controle do imaginário

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O controle do imaginário se observa quando a sociedade, por meio de suas instituições, precisa separar no campo da expressão aquilo que é socializável do que não é. O controle é mais sofisticado que a censura, supõe a deslegitimação de tudo que procura se contrapor a um valor vigente, sem que esse valor precise ser explicitado. Apesar de originalmente destinado à crítica literária o conceito pode ser facilmente transposto para a arquitetura de nossos dias, tal como ensinada nas faculdades e praticada nos escritórios. Pode ser exercido em nome do “mercado de trabalho”, pelo viés político, ou mesmo em nome de um purismo fundamentalista da arquitetura das vanguardas do século XX.

Isto não se dá sem uma grande perda da criatividade. É como se a Universidade estivesse neurótica e temesse uma formação crítica.

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Linguistica e arquitetura

 

Apesar de, nas faculdades, a arquitetura ser uma matéria plana, pragmática, e o ensino de projeto seja em sua maior parte voltado para uma dita reposição de mão de obra para o fatídico “mercado”, cada vez mais alheio aos seus grandes valores, a arquitetura admite uma grande diversidade de abordagens. Do plano formal ao plano social, do plano psicológico ao plano fenomenológico, são múltiplas, diversificadas e mesmo contraditórias as diversas abordagens críticas possíveis, sobretudo se desejamos ver a arquitetura como uma manifestação cultural e artística, e não meramente como um simples objeto construído segundo um pretexto funcional.

Igreja de Notre-Dame du Haut, Ronchamp. Le Corbusier, 1955

A preocupação com a forma como prioridade caracteriza o Discurso Estético.

A partir dos anos 1960, e sobretudo na década seguinte, desenvolveu-se em todas as manifestações culturais uma grande sensibilidade aos fenômenos linguísticos. De tão universal, ficou conhecido com “A virada linguística”. Partiu-se do reconhecimento da linguagem como agente estruturador do pensamento, na esteira do pensamento estruturalista. Foi uma época particularmente fértil para o pensamento arquitetônico, que lamentavelmente, vem-se perdendo e veem-se esmaecer suas ressonâncias, tendo como resultado o empobrecimento do ensino e do produto arquitetônico.

Desejamos retomar essa discussão sob um viés particular, que estabelece a pluralidade de discursos arquitetônicos suas aplicações e interesses.

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Um Rio dividido

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Um artigo  de Michael Kimmelman, publicado no New York Times dia 25 de novembro, 2013. faz uma clara análise da situação da cidade do Rio de Janeiro frente aos mega eventos que se aproximam, em 2014, seus dilemas, malversações, descaminhos, numa lógica difícil de ver na nossa impressa, também comprometida com o poder, a noticia de impacto, as imagens…

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A difícil jornada na frágil van leva à colina íngreme do Morro da Providência, a favela mais antiga desta cidade. Última parada: a pequena praça, silenciosa, com uma loja de hardware, bar e um par de jovens policiais no carro blindado, empunhando metralhadoras, patrulhando a ainda fechada estação do teleférico, que a cidade recentemente construiu. O porto (Maravilha) é visível lá embaixo.

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Os MoXXI

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Estão baixando na paisagem do Rio de Janeiro estranhos objetos que podem, por quem não conhece o assunto, ser chamados de objetos arquitetônicos. Na verdade, à distância, se parecem com estes. Porém uma visão mais atenta nos fará compreender que nada do que se ensina (ou ensinava) nas faculdades de arquitetura é necessário para a construção destes objetos. As decisões sobre suas características, imagem, dimensões, materiais, cores, não são tomadas por critérios arquitetônicos, mas por critérios pragmáticos e clichês midiáticos e comerciais, frequentemente, de mau gosto e agressivos.

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Centro Empresarial Senado. Rio de Janeiro. 2013

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Forma Estrutural – I

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A Forma Estrutural na Arquitetura

Silvio Colin

INTRODUÇÃO

A ideia de fazer beleza com a estrutura do edifício não é nova; ao contrário, é tão antiga quanto a ideia de arquitetura. Os elementos estruturais – muros, pilares, vigas – sempre foram pensados não apenas como elementos portantes, mas também como um substrato de formas decorativas. Assim foi nas arquiteturas proto-históricas com os relevos decorativos dos grandes muros das cidadelas assírias como nos templos egípcios.

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Forma estrutural II

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As primeiras construções em ferro fundido e forjado

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Ponte sobre o rio Severn, Coalbrookedale. 1777 – 1779. Projeto de Thomas Pritchard. Execução de Abraham Darby III. Comprimento total: 60 m. Vão central: 30,5 m

Se pudéssemos determinar um dia, um único dia, como o primeiro da edilícia moderna, talvez mesmo da arquitetura moderna, este seria um dos dias possivelmente do ano de 1735, exatamente aquele em que, em Coalbrookdale, um lugarejo no centro da Inglaterra, perto de Birmingham, Abraham Darby, patriarca de uma família de industriais homônimos utilizou o carvão mineral em lugar do carvão vegetal para fundição de ferro. Com este procedimento, a qualidade do ferro aumentaria e o preço cairia. Em 1847 tal feito foi divulgado, embora desde 1940, Darby utilizaria regularmente o processo para obter o ferro gusa, de maneira industrial. Este fato mudaria a face do mundo. A partir de 1760, a produção de ferro pelo novo método aumenta expressivamente, e passa então a ser usado primeiramente na construção de ferrovias e pontes, e no início do século XIX, também na construção civil e na arquitetura. Continuar lendo

A arquitetura do Rio de Janeiro vai ao cinema

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A história é uma ficção, nos dizem os historiógrafos. Sabem eles que jamais se tem acesso aos fatos como aconteceram em sua totalidade, e sempre se terá que preencher uma narrativa histórica com boa dose de invenção. Com isto em mente, não seria justo exigir do filme “Flores Raras”, cuja proposta é narrar os encontros e desencontros do triângulo amoroso formado por Lota Macedo Soares, Elizabeth Bishop e Mary Stearns Morse, um rigor historiográfico muito grande quando se trata do contexto da história.

Aterro do Flamengo posterizado (2)

A grande questão é que esse contexto é a arquitetura e o paisagismo do Rio de Janeiro. Eu, como professor de arquitetura, que fui estudante na época em que se passaram esses fatos, e que vejo hoje o ensino da matéria girando em círculo em torno de questões as mais rasteiras, pensando apenas em uma falaciosa reposição de mão de obra para construtoras, incorporadoras e grandes empresas, e esquecendo as questões mais nobres da nossa arquitetura brasileira e carioca, que fulguravam nos anos 1950 e 1960, fiquei perplexo com certas lacunas existente no filme. Em nenhum momento foram mencionadas três figuras da maior importância na construção daquele quadro a que se refere o filme: Sergio Bernardes, Affonso Eduardo Reidy e Roberto Burle-Marx. Nem uma menção! Nem as iniciais! Continuar lendo