Arquivo da categoria: Arquitetura sustentável

O Pensamento Fraco em Arquitetura II

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MONUMENTO

A posição antimonumento do Movimento Moderno justificava-se por ser o monumento uma prática da arquitetura do passado, tanto imediato como remoto, uma prática vitoriana que urgia substituir. Além disso, próprio nome “moderno” já traz, em si, o sentido do último, do mais recente, ao qual nada sucederia. Havia um sentimento de que era necessário romper com o passado. Os argumentos eram políticos, estilísticos, econômicos e retóricos.

Toda a arquitetura da modernidade, anterior ao século XX, fora construída sob o signo da ordem aristocrática ou burguesa, para exercer ou manifestar o seu poder. A arquitetura monumental não apenas representava este estado de coisas, como ajudava a mantê-lo. Os estilos, “qual plumas na cabeça de uma mulher” [1], no dizer de Le Corbusier, não tinha mais razão de ser. Por outro lado, a crescente urbanização trouxe para a arquitetura o tema da economia, não somente de recursos, mas também de “energia” psíquica, como diria Adolf Loos, de espaço, de formas. Le Corbusier argumentava que “Não temos mais dinheiro para construir monumentos históricos” [2]

Monumento a Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.Cor Mies . Berlim, 1926. Continuar lendo

O pensamento fraco na arquitetura III

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SUSTENTABILIDADE

Toda a discussão atual sobre a sustentabilidade, que envolve também a arquitetura, pode ser colocada relacionando a oposição entre o Pensamento Forte e Pensamento Fraco. O primeiro, reflexo do pensamento iluminista,  reproduz tardiamente o espírito de Francis Bacon do domínio do Homem sobre as coisas, sustentando que a Natureza deveria ser obrigada a servir-lo, e este deveria extrair dela os seus segredos. E não somente os segredos, poder-se-ia acrescentar, mas também suas fontes de energia. Assim é que a modernidade é a época dos combustíveis fósseis, do carvão e do petróleo e a arquitetura dos grandes centros urbanos, os arranha-céus de aço e vidro, grandes incorporadores e consumidores de energia, e que são vilões do pensamento sustentável.

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As graves crises ocorridas nos anos 1970 colocaram em questão essa representação arquitetônica do mito do desenvolvimento. No ambiente da arquitetura, os extremistas falaram da falência da arquitetura moderna, os mais moderados em uma grave crise da qual não se sairia a não ser tomando um rumo novo. Continuar lendo

Os MoXXI

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Estão baixando na paisagem do Rio de Janeiro estranhos objetos que podem, por quem não conhece o assunto, ser chamados de objetos arquitetônicos. Na verdade, à distância, se parecem com estes. Porém uma visão mais atenta nos fará compreender que nada do que se ensina (ou ensinava) nas faculdades de arquitetura é necessário para a construção destes objetos. As decisões sobre suas características, imagem, dimensões, materiais, cores, não são tomadas por critérios arquitetônicos, mas por critérios pragmáticos e clichês midiáticos e comerciais, frequentemente, de mau gosto e agressivos.

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Centro Empresarial Senado. Rio de Janeiro. 2013

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Arquitetura e crise de energia

ARQUITETURA E CRISE DE ENERGIA

  Paolo Portoghesi [1]

Do livro “Dopo l’architettura moderna”. Roma: Laterza, 1980. Tradução brasileira “Depois da arquitetura moderna” São paulo: Martins Fontes, 2002. [2]

Escrito no final dos anos 1970, este texto, um clássico da crítica arquitetônica, mostra ainda uma extrema atualidade.


O sistema industrial moderno, essa máquina gigantesca que unifica as sociedades mais desenvolvidas, a despeito das suas diferenças políticas e institucionais, e projeta a sombra da alienação tanto sobre o mundo capitalista quanto sobre o socialismo “real”, construiu seu império sobre alicerces de barro, que o passar do tempo enfim revelou. Este sistema apoiou-se numa ideia de natureza como uma entidade infinita, da qual se poderia extrair indefinidamente a energia necessária para alimentar o moto-contínuo da produção. Quando percebemos que o sistema industrial não deve prestar contas somente de seu capital artificial, mas também de um segundo capital, este não recuperável ­­– a natureza, o grande mito do desenvolvimento infinito caiu por terra, dando lugar, porém, a outro mito igualmente improdutivo: o da crise sem saída. Depois de explorar por tanto tempo o capital da natureza, de saquear a terra como a uma cidade conquistada, o sistema prefere hoje lamentar-se diante da perspectiva inelutável do “fim da civilização” a reexaminar o problema buscando uma “nova aliança” com a natureza, um novo equilíbrio.

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Lever House.Nova Iorque, 1951-2. Arquiteto Gordon Bunshaft. De Skidmore, Owins e Merrill (SOM)

O arranha-céu de vidro, inventado nos anos 50 e ainda hoje considerado modelo insuperável para edifícios de escritórios, é também um exemplo de irracionalidade dificilmente superável. Continuar lendo

Quadros de uma metrópole motorizada

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De nada adianta falar em acessibilidade, cidadania, sustentabilidade, se estes conceitos ainda estão muito distantes do dia-a-dia do cidadão comum e ignonados pelas autoridades. Vemos a todo minuto nossos direitos a estes bens do convívio humano serem agredidos e usurpados. Ninguém que viva em uma metrópole pode dizer que está a salvo de assassinatos, estupros, assaltos. Mas esta é a macrofísica dos atentados contra a dignidade humana. Existe também uma microfísica na qual o desrespeito é gerado e acalentado. Esta se compõe desses conceitos mencionados acima, os quais, quando observados, mostram o grau de nossa evolução em direção à cidadania, e por que não dizer, a nossa superação da condição latente de predador, que ainda trazemos conosco. A seguir, alguns quadros desse cotidiano de desrespeito.

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Arquitetura e sustentabilidade

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As grandes crises do petróleo, acontecidas nos anos 1970, que afetaram a geopolítica mundial desde então, foram provocadas por uma constatação, por parte dos países produtores de petróleo, OPEP, de que produziam um bem precioso e esgotável, e que não era certo que fosse queimado nas câmaras de combustão interna dos vorazes motores dos carros americanos.

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Edifícios no Lake Shore Drive. Chicago, 1949-51. Arquiteto Mies van der Rohe

O arranha-céu de aço e vidro, a realização de um sonho acalentado desde o início do século por poetas e arquitetos alemães, foi condenado por ser um grande consumidor de energia.

Mas essas crises tiveram também grande influência na arquitetura ao levantarem a questão da energia consumida pelos edifícios das grande metrópoles. O arranha-céu de aço e vidro, a realização de um sonho acalentado desde o início do século por poetas e arquitetos alemães[1], foi condenado em primeira instância por ser um grande consumidor de energia. Em seu lugar, arquitetos como Louis I. Kahn, Robert Venturi, Aldo Rossi, Michael Graves, James Stirling, propunham a volta da velha e confiável parede de tijolos, recortada por janelas. Mas isso não ficou assim. As indústrias afluentes do aço, do alumínio e do vidro voltaram à carga e conseguiram um Habeas Corpus, daquele tipo que nós brasileiros conhecemos, em que as situações vão se perpetuando até o definitivo esquecimento.

Veio o Brundtland Report,[2] a Agenda 21,[3] a Agenda Habitat[4] e plus ça change[5]… Apesar disso, os edifícios de aço, alumínio e vidro voltaram duplicados, triplicados, mais caros, mais coloridos, exercendo em alguns o antigo fascínio que seduziu Paul Scheerbart e os arquitetos da Bauhaus,  propalando maior eficiência energética etc. Continuar lendo

Agro-habitação

  Agro-Habitação e Sustentabilidade

Sobre um artigo publicado em www.archdaily.com.

Edição e comentários Silvio Colin

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 A Agro-Habitação foi o projeto vencedor da versão 2007 do Concurso para Habitação Sustentável promovido pela Living Steel para a China. Parte edifício de habitação, parte estufa, a proposta prevê  para os moradores da cidade a possibilidade de ter uma experiência de agricultor. Uma combinação de amenidades rurais e facilidades urbanas, a proposta é um partido original sobre a dualidade campo-cidade. Não deixa de ser um olhar inovativo sobre a urbanidade sustentável.

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A madeira em tempos de sustentabilidade-IV

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Quando  o  tema  da  sustentabilidade  entrou  na  pauta dos arquitetos mais conscientes, a utilização da madeira na arquitetura passou a ser encarada com certa desconfiança. Afinal de contas, poderíamos estar indiretamente contribuindo para o desmatamento de nossas reservas, indo enfim de encontro às agendas progressistas relacionadas com o nosso ecossistema.

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Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou. Nova caledônia. 1991-98. Arquiteto Renzo Piano.

Uma das mais inspiradas utilizações da madeira na grande arquitetura. Continuar lendo

A madeira em tempos de sistentabilidade – II

Silvio Colin

Classificação das árvores

A madeira é um produto vegetal, proveniente do lenho de vegetais superiores (árvores e arbustos lenhosos). Botanicamente podem ser classificados conforme sua germinação em dois tipos:

Endógenas – cujo crescimento se dá pela adição de novas camadas internamente. São árvores tropicais, monocotiledôneas (tem um único cotilédone[1]). Pertencem a es­ta categoria as palmeiras e bambus, cujo uso na construção civil, antes limitado às construções rústicas como as palhoças, taipa de sopapo etc. tem encontrando novos adeptos.

Conífera. Araucária. Imagem <www.plantasonya.com.br>

Exógenas – Cujo crescimento se da pela adição de camadas concêntricas externas. Estas compreendem as coníferas e frondosas. Coníferas são resinosas, gimnospermas (sementes a descoberto), folhas em forma de agulha e o lenho de madeira branda. Ao possuem canais condutores de seiva. Correspondem a 30% das espécies conhecidas. São típicas de regiões frias e temperadas. Exemplos de coníferas são as árvores do gênero Pinus, como os pinheiros da Europa, os abetos, as sequóias, os cedros, os ciprestes, as araucárias (pinheiros-do-paraná). Frondosas (ou folhosas) – são árvores de madeira du­ra, ou “de lei”. São angiospermas (sementes encerradas em fru­tos), dicotiledôneas, folhas achatadas e largas. Nas regiões temperadas são caducifólias (perdem as folhas no inverno). Destas as espécies mais conhecidas são a nogueira, o álamo, o carvalho e o olmeiro. Nas regiões tropicais são perenifólias (tem folhas o ano inteiro), e as espécies mais uti1izadas são o angi­co, aroeira, cabriúva, canela, caviúna, cedro, freijó, gonçalo-alves, imbuia, ipê, jacarandá, jequitibá, louro, maçaranduba , mogno, pau marfim, peroba do campo, peroba rosa, sucupira e vi­nhático.

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A madeira em tempos de sustentabilidade – I

Silvio Colin

A madeira é um dos mais importantes e versáteis materiais de construção. Com ela se fazem estruturas, vedações, telhados, esquadrias, movéis etc. É o único material que participa de todas os sistemas e etapas da construção de edifícios, desde um simples andaime ou uma forma descartável até um nobre revestimento de parede. É o único material natural renovável. Era, antes da Revolução Industrial, o único material que poderia arcar com os serviços estruturais de flexão. Os outros materiais naturais, a pedra e a argila, somente podiam trabalhar à compressão.

Centro de Proteção Ambiental de Balbina. AM,  1988. Arquiteto Severiano Porto. Uma das obras mais emblemáticas da moderna arquitetura brasileira em madeira. Não somente pelo extenso uso do material, inclusive em telhas, de suas formas livres, mas também pela sua destinação, como centro de pesquisas sobre os impactos ambientais da Hidrelétrica de Balbina.
Apesar de suas qualidades, que detalharemos adiante, a madeira tem tido sua utilização na arquitetura questionada por diversos fatores. Do ponto de vista da sustentabilidade, uma questão que não pode ser evitada pelos arquitetos hoje, a exploração da madeira por meios ilegais, a incessante destruição das matas nativas para fins outros que não sua utilização mais nobre, e mesmo as práticas de reflorestamento visando apenas benefícios imediatos, têm, às vezes, causado certa inibição  nos arquitetos mais conscientes quanto à exploração estética e física do material. Este texto pretende ser uma reflexão sobre esta questão.

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