Gerson Pompeu Pinheiro
Artigo publicado na Revista Arquitetura e Urbanismo Julho Agosto 1937, p. 173-5
Gerson Pompeu Pinheiro (1910-1978) formou-se arquiteto em 1930. Foi assíduo freqüentador dos periódicos e até mesmo do rádio, em trabalho de catequese para o novo credo da arquitetura modernista. Dividira ele com Affonso Eduardo Reidy a autoria do projeto para o Albergue da Boa Vontade, em 1931, e obteria o terceiro lugar no concurso para Ministério da Educação e Saúde , cujo resu1tado, embora acatado quanto à premiação, não geraria o Edifício, como é do conhecimento de todos. Esta atividade prática entretanto o qualificaria para a atividade doutrinadora em que se empenhou. Foi professor catedrático da Escola Nacional de Belas Artes, (hoje dividida entre Faculdade de Arquitetura e Urbanismo -FAU e Escola de Belas Artes -EBA, , da UFRJ), e seu diretor por três vezes. O papel de destaque que lhe cabe é mais como divulgador do pensamento modernista, embora não se concentrasse na doutrina racionalista de Le Corbusier. Orientava-se também pelo organicismo de Wright, cuja vinda ao Brasil não é tão lembrada como as visitas de Corbusier, e cuja influência nos profissionais da época tende a ser menosprezada. Em artigo bem humorado, com desenhos engraçados (Gerson era também caricaturista do jornal “0 Globo”), faz uma crítica aos princípios de Le Corbusier, sobretudo a “estrutura livre”. Muitas de suas críticas, é verdade, retratam mais limitações construtivas da época em que o artigo foi escrito, não valendo mais para hoje, mas servem para mostar que a aceitação dos princípios modernistas não foi irrestrita. Este trabalho não deve ter sido muito bem recebido por aqueles seguidores mais incondicionais do carismático mestre.
Dentre as várias conquistas da moderna técnica de construção figura a chamada “estrutura livre.” Seu emprego, pelas profundas alterações que pode produzir no tradicional conceito da arquitetura precisa ser convenientemente considerado. Le Corbusier tem sido o seu grande vulgarizador. A estrutura livre, o nome bem o diz, consiste no sistema construtivo em que o arcabouço ou esqueleto do edifício não forma corpo com as paredes. Os apoios ou suportes verticais representados pelas colunas distribuídos simétrica e regularmente recebem a sobrecarga das lajes as quais, por seu turno, sustentam as paredes. Assim sendo, como as paredes se tornam independentes, a estrutura aparece em posições assimétricas no interior da construção. Alegam os seus propugnadores incondicionais, vantagens de economia, flexibilidade, liberdade de fachada. Continuar lendo →