Arquivo da tag: Arquitetura Rio de Janeiro

Os MoXXI

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Estão baixando na paisagem do Rio de Janeiro estranhos objetos que podem, por quem não conhece o assunto, ser chamados de objetos arquitetônicos. Na verdade, à distância, se parecem com estes. Porém uma visão mais atenta nos fará compreender que nada do que se ensina (ou ensinava) nas faculdades de arquitetura é necessário para a construção destes objetos. As decisões sobre suas características, imagem, dimensões, materiais, cores, não são tomadas por critérios arquitetônicos, mas por critérios pragmáticos e clichês midiáticos e comerciais, frequentemente, de mau gosto e agressivos.

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Centro Empresarial Senado. Rio de Janeiro. 2013

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A arquitetura do Rio de Janeiro vai ao cinema

Vinheta

A história é uma ficção, nos dizem os historiógrafos. Sabem eles que jamais se tem acesso aos fatos como aconteceram em sua totalidade, e sempre se terá que preencher uma narrativa histórica com boa dose de invenção. Com isto em mente, não seria justo exigir do filme “Flores Raras”, cuja proposta é narrar os encontros e desencontros do triângulo amoroso formado por Lota Macedo Soares, Elizabeth Bishop e Mary Stearns Morse, um rigor historiográfico muito grande quando se trata do contexto da história.

Aterro do Flamengo posterizado (2)

A grande questão é que esse contexto é a arquitetura e o paisagismo do Rio de Janeiro. Eu, como professor de arquitetura, que fui estudante na época em que se passaram esses fatos, e que vejo hoje o ensino da matéria girando em círculo em torno de questões as mais rasteiras, pensando apenas em uma falaciosa reposição de mão de obra para construtoras, incorporadoras e grandes empresas, e esquecendo as questões mais nobres da nossa arquitetura brasileira e carioca, que fulguravam nos anos 1950 e 1960, fiquei perplexo com certas lacunas existente no filme. Em nenhum momento foram mencionadas três figuras da maior importância na construção daquele quadro a que se refere o filme: Sergio Bernardes, Affonso Eduardo Reidy e Roberto Burle-Marx. Nem uma menção! Nem as iniciais! Continuar lendo

A poética da arquitetura de interesse social

Este texto aborda a questão da poética arquitetônica nos conjuntos habitacionais de interesse social. Embora muitas vezes seja relegada a segundo plano, outras vezes até mesmo excluída das preocupações dos projetistas para este tipo de arquitetura, existirá sempre um grande campo de possibilidades, no plano estético, de escolha da configuração final de um edifício, apesar de grandes restrições de toda ordem, sejam estas técnicas, funcionais ou econômicas. Isto apesar de certa crença em contrário, que muitas vezes até coloca em oposição as preocupações estéticas com aquelas de ordem social, rotulando as primeiras de alienadas, elitistas, escapistas etc. e apesar também de a doutrina funcionalista do Movimento Moderno estabelecer os feitos poéticos como secundários em relação às soluções funcionais.

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Malapropismo

Malapropismo em Arquitetura

2ª publicação. Ampliada.

Publicado inicialmente em 17/04/2011

Silvio Colin

vinheta malapropismo

O malapropismo, em arquitetura, acontece quando a mensagem veiculada pela forma arquitetônica é inapropriada ou inadequada ao seu conteúdo, sobretudo quando esta causa um efeito jocoso.  O assunto foi extensamente explorado por Charles Jencks, ao criticar a alienação dos arquitetos afiliados ao Estilo Internacional tardio e sua resistência à adoção da linguagem simbólica.

Referindo-se à refinada linguagem de Mies van der Rohe no conjunto do Illinois Institute of Tecnology (IIT), e ao seu extremo purismo, que desconsiderava qualquer alusão simbólica, Jencks chama a atenção que a Casa de Caldeiras, que mais parece a catedral do campus, e a Igreja, que, por sua vez, parece uma casa de caldeiras.

Casa de Caldeiras do IIT. Mies van der Rohe 1947.

Legenda de Jencks: “A tradicional forma da basílica, com a nave central e dois corredores laterais. Existe até um clerestório, em sistema de baias e um campanário, para mostrar que isto é uma catedral” [1]

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Um projeto bem explicado

Casa Monteiro Coimbra. Jacarepaguá, Rio de janeiro. 1952. Arquitetos M. M. M. Roberto

Esta casa aborda um tema que será popularizado um ano depois por Oscar Niemeyer na Casa das Canoas [1] : a grande laje plana com forma livre, dominando a construção.  Esta casa, entretanto, é anterior à de Niemeyer, e dela difere em muitos aspectos. Inclusive porque neste exemplar,  os blocos da construção tem caráter determinante, e a laje acompanha a organização funcional da casa, enquanto que, na casa das canoas, é a laje o ponto de ataque, subordinando os outros elementos. Vale a pena uma análise desse edifício, sobretudo pela explicação detalhada que  fazem os arquitetos, expondo com clareza os pontos de doutrina de sua arquitetura, tão marcantes na época. Além disso, didaticamente, é um excelente exemplo de um memorial descritivo.

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Toponímia das favelas cariocas

Silvio Colin

Alemão, Maré, Borel, Mangueira, Santa Marta, Rocinha, Salgueiro… De onde vêm estes nomes? O que significam? Porque começaram a ser usados. A toponímia, estudo dos nomes dos lugares,  é dos  mais significativos e esclarecedores sobre os locais. Suas condições históricas, geográficas, políticas, culturais, podem estar representadas no nome. Quem, por exemplo associaria o topônimo Pernambuco à designação “Bairro do Fernando” (Fernambourg), como nos ensina Louis Vauthier [1].

Os estudo da toponímia pode revelar dados históricos, fenomenológicos, sociológicos, e mesmo ressaltar contradições políticas e administrativas. A seguir apresentamos a origem de alguns topônimos de favelas no Rio de Janeiro, sua origem controversa e alguns dados dessas comunidades.

Favela da Rocinha. Imagem <www.shafir.info>

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Crônica de uma morte anunciada

A implosão do Hospital Universitário da Ilha do Fundão

Silvio Colin

A implosão da chamada perna seca do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão do Rio de Janeiro, foi uma morte anunciada. Após décadas de abandono, descaso, vandalismo, omissão, lá se foi um ícone da decantada Escola Carioca do Movimento Moderno da Arquitetura Brasileira. Trata-se não apenas de um caso extremamente desabonador para a saúde pública no Brasil que, como sabemos, vai mal das pernas, mas também para o nosso pensamento arquitetônico que, já na segunda década do século XXI, não consegui incluir nada que não seja aquela desgastada reflexão racionalista e produtivista de meados do século XX.

HUCFF. Ala demolida. Imagem <www.ufrj.br>

Não podemos deixar de ver o fato com um certo horror, e também não podemos evitar certas reflexões embaraçosas a respeito do que está sendo feito da nossa arquitetura. Continuar lendo

Sajous

Silvio Colin

Henri Paul Pierre Sajous (1897-1975) foi um arquiteto francês a quem o Rio de Janeiro deve alguns de seus mais belos edifícios. Viveu nesta cidade entre 1930 e 1944. Veio ao Brasil a convite do  Comendador Francisco de Souza Costa para projetar as Termas de São Lourenço, no Parque das Águas desta cidade, que foi inaugurado em 1935, com a presença do Presidente Getúlio Vargas. Também de sua autoria, no mesmo sítio, é o Pavilhão da Fonte Vichy, um primor.

Balneário de São Lourenço. 1935. Continuar lendo

A estrutura livre

Gerson Pompeu Pinheiro

Artigo publicado na Revista Arquitetura e Urbanismo Julho Agosto 1937, p. 173-5

Gerson Pompeu Pinheiro (1910-1978) formou-se arquiteto em 1930. Foi assíduo freqüentador dos periódicos e até mesmo do rádio, em trabalho de catequese para o novo credo da arquitetura modernista. Dividira ele com Affonso Eduardo Reidy a autoria do projeto para o Albergue da Boa Vontade, em 1931, e obteria o terceiro lugar no concurso para Ministério da Educação e Saúde , cujo resu1tado, embora acatado quanto à premiação, não geraria o Edifício, como é do conhecimento de todos. Esta atividade prática entretanto o qualificaria para a atividade doutrinadora em que se empenhou. Foi professor catedrático da Escola Nacional de Belas Artes, (hoje dividida entre Faculdade de Arquitetura e Urbanismo -FAU e Escola de Belas Artes -EBA, , da UFRJ), e seu diretor por três vezes. O papel de destaque que lhe cabe é mais como divulgador do pensamento modernista, embora não se concentrasse na doutrina racionalista de Le Corbusier. Orientava-se também pelo organicismo de Wright, cuja vinda ao Brasil não é tão lembrada como as visitas de Corbusier, e cuja influência nos profissionais da época tende a ser menosprezada. Em artigo bem humorado, com desenhos engraçados (Gerson era também caricaturista do jornal “0 Globo”), faz uma crítica aos princípios de Le Corbusier, sobretudo a “estrutura livre”. Muitas de suas críticas, é verdade, retratam mais limitações construtivas da época em que o artigo foi escrito, não valendo mais para hoje, mas servem para mostar que a aceitação dos princípios modernistas não foi irrestrita. Este trabalho não deve ter sido muito bem recebido por aqueles seguidores mais incondicionais do carismático mestre.

Dentre as várias conquistas da moderna técnica de construção figura a chamada “estrutura livre.” Seu emprego, pelas profundas alterações que pode produzir no tradicional conceito da arquitetura precisa ser convenientemente considerado. Le Corbusier tem sido o seu grande vulgarizador. A estrutura livre, o nome bem o diz, consiste no sistema construtivo em que o arcabouço ou esqueleto do edifício não forma corpo com as paredes. Os apoios ou suportes verticais representados pelas colunas distribuídos simétrica e regularmente recebem a sobrecarga das lajes as quais, por seu turno, sustentam as paredes. Assim sendo, como as paredes se tornam independentes, a estrutura aparece em posições assimétricas no interior da construção. Alegam os seus propugnadores incondicionais, vantagens de economia, flexibilidade, liberdade de fachada. Continuar lendo

Pós-modernidade e pós-modernismo

Aprendendo com a Barra da Tijuca

Sílvio Colin

Publicado no site Vivercidades em 04/11/2005

Parece que, nos ambientes acadêmicos, na produção e crítica arquitetônica, com relação ao tema ‘Pós-Modernismo’ acontece certa reação de fingir ignorar coisas, acontecimentos, situações de desconforto, que exigem atitudes que se quer adiar ou evitar. Algo como uma negação maníaca.

Centro Empresarial Barra Shopping. Imagem <www.buildings.com.br>
Uma oposição se expressa, muitas vezes, identificando o Pós-Modernismo, aqui no Rio de Janeiro, como certa arquitetura temática dos shopping-centers e edifícios residenciais e comerciais, que lançam mão de motivos históricos para criar associações ditas de mau gosto e vazias, mas que criam um forte diferencial – diga-se de passagem, um diferencial que os métodos modernistas não mais conseguem produzir.

Vejo, cada dia com mais preocupação, que o ensino e a prática da Arquitetura não conseguem se libertar de uma reflexão racionalista-funcionalista, o grande método do alto Modernismo, mas que hoje, em face dos problemas atuais enfrentados pelos arquitetos, em sua reflexão e sua prática, conduzem a uma repetição monótona, às vezes mesmo vazia, de formas já exploradas, esquentadas por uma profusão de novos produtos, técnicas e métodos construtivos oferecidos pela afluente indústria da construção. São vidros e painéis de todas as cores e com todas as propriedades técnicas; são processos estruturais capazes de criar mega-objetos arquitetônicos que, sem dúvida, abrigam as atividades e funções a que se destinam, mas aos quais falta a mão do arquiteto criador, daquele operador de mensagens poéticas e éticas novas e insuspeitadas, que fizeram da Arquitetura, ao longo dos séculos, uma grande arte, não uma simples atividade técnica. Continuar lendo